segunda-feira, 29 de outubro de 2007

um pé além da porta

o momento de ir
foi o momento de rir
e pensar que se não fosse naquela hora
uma nuvem de culpa invadiria aquele sol

a sombra baixando
as cadeiras de praia se aproximando
sobressalto
salto junto
e ponho a última carta na canga
ali
naquela hora
se encontram dois mundos
distanciados por igual proximidade
e fazem do tempo
mero detalhe
10 anos em uma tarde
e já foi tarde
mas é que arde
minhas costas e meu peito.

sábado, 27 de outubro de 2007

ela

Passando para a próxima

ela dobra a esquina.
E num rebolar absoluto,
o polo negativo das nossas mentes não menos negativas
recai sobre a positividade da cena.
Os imãs se atraem.
É como se todas nossas certezas fossem condensadas naquele pedaço de corpo.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

memórias do 592 na enchente de amanhã de manhã

dormir a tarde embaralha a mente:
Dona Soledad pode dar de cara com um escravo sudanês que Koster registrara o intercurso com uma menina branquicéfala de família. Nada a temer. O dito cujo do dito cujo já havia sido capado com uma faca mal afiada, como registra Freire, referindo-se ao castigo aplicado ao escravo, no caso de caso com alguma filha do senhor. Fora o sal, fora o fato de ser enterrado vivo.
Nem filme de terror, nem cirurgia ao vivo na tv. O brasil colônia tinha um lado bem sombrio, que o estilo vivo e fluido do gilberto não consegue esconder. E o que dizer do fascínio pela fragmentação do mundo de Descartes, e a relação entre a filosofia chinesa e a nova concepção de física do século xxi? Tá faltando ying no mundo, até nas mulheres. Tá faltando ying no mundo.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

metáfora

pelas horas que correm
só se constata
que o que está vivo se mexe
falar do nada
é só metáfora

quando a saudade invade tudo
transborda pelo nariz e boca
um verde de lembrança
faz crer que o amor pelos outros é por mim também

e vice-versa
versa-vice
que o campeão não cabe em si
e vice-versa
versa-vice
eu ainda estou longe daqui

nem sei se existe um destino certo
por perto
onde a gente possa descansar
e pensar
não dá pra fazer nada
não dá pra evitar
dormir desperto que o destino ele é que vai nos levar
dormir desperto
que o destino é o destino.

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

iminência ou imanência?

gosto das portas

dos limites

das entradas e saídas.

não sei se fico ou se vou:
me boto embaixo da soleira da porta
a salvo dos terremotos e furacões
(a salvo das decisões)

gosto das porteiras, dos mata-burros
pedaço de chão de sim e de não

olhando pra baixo
medindo o passo
no peito o compasso da espera:
apreensão.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

como lemos à guerra ou cinelândia de manhã

são as marcas da guerra
garranchadas na carne
arde que toma o gosto amarelado

são as marcas da guerra

esta tão doce guerra.

olhares descompassados miram o infinito de nós mesmos
miram o infinito e esperam.

mas quem espera demais

...

somente espera

é a guerra que o vencedor ganha com o vencido
que o perdedor pode virar amigo
selando a perda por W.O

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

o outro lado do mundo global e redondo

ultimamente fascinado pela cultura oriental e , mais especificamente, a cultura oriental dos orientais de olhos puxados, compartilho convosco o texto abaixo e dois filmes.

O primeiro, Rashômon (1950), do mestre japonês Akira Kurosawa, conta a história de um assassinato a partir de quatro pontos de vista diferentes (da mulher, do ladrão, do samurai morto e da testemunha). Você acredita na versão que achar mais convincente. Ou não acredita em nenhuma e assume que cada um vê as coisas de modo ligeiramente, ou em alguns casos, muito diferente.É genial. Estou baixando e vou tentar compartilhá-lo literalmente aqui se o doutor servidor aguentar o tranco de megabytes.

O outro filme chama-se "Sem fôlego" (2007) ou "Soom" no original. É do sul-coreano Kim ki Duk, autor de "Casa Vazia". O cara esculacha na sutileza dos personagens envolvidos, é um cara que faz cinema no vazio das coisas, no não-cinematográfico a princípio. Muito mais desencontros do que encontros. Enfim, vejam os filmes!!

Por agora dá uma olhada nesse texto que eu peguei na internet sobre o harakiri:



"Harakiri é um dos mais intrigantes e fascinantes aspectos do código de honra do samurai: consiste na obrigação ou dever do samurai de suicidar-se em determinadas situações, ou quando julga ter perdido a sua honra.
Significa literalmente "corte estomacal". Esse suicídio ritual também é chamado de seppuku.
Várias circunstâncias podiam levar o samurai a praticar o harakiri.

Entre elas:

- Como castigo e forma de recuperar a sua honra pessoal, uma vez que esta foi perdida em alguma atitude indigna do nome de sua família e de seus ancestrais;
- A fim de evitar ser prisioneiro em campos de batalha, pois era considerado imensa desonra entre os samurais se render ao adversário; assim, eles preferiam renunciar à vida do que entregar-se a mãos inimigas. Além disso, a rendição também não era uma boa escolha, pois os presos eram quase sempre torturados e maltratados;
- Em um ato de pura lealdade, o samurai chega a se matar para chamar a atenção de seu senhor (daimiô) a algo de errado que ele venha fazendo, advertendo-o. Alguns samurais também se suicidavam ao ver o declínio dos seus senhores, ou mesmo quando estes morriam, como forma de acompanhá-los eternamente e seguir o preceito de que um samurai não serve a mais de um daimiô em sua vida.

O ritual do harakiri era praticado da seguinte forma:

O samurai banhava-se, de forma a purificar o seu corpo e a sua alma e dirigia-se ao local de execução, onde se sentava à maneira oriental. Pegava então sua espada curta (wakizashi), ou um punhal afiado e enfiava a arma no lado esquerdo do abdômen, cortando a região central do corpo e terminava por puxar a lâmina para cima. Era importante o corte ser no abdômen, pois era considerado o centro do corpo, das emoções e do espírito para o povo japonês.
Assim, o samurai estaria literalmente cortando a sua "alma".

Importante também era para o samurai escrever um poema de morte, que era uma pequena composição poética onde o guerreiro deixava registradas as suas últimas impressões do mundo, algum desejo oculto ou simplesmente uma despedida formal.

A morte por evisceração era lenta e dolorosa, e podia levar horas. Apesar disso, o samurai devia mostrar absoluto controle de si mesmo, não podendo dar sinais de dor ou medo.

Ao lado do suicida ficava um amigo ou parente, o kaishakunin, que portava uma espada. Era uma espécie de assistente do ritual; se o samurai demonstrava não estar mais suportando a dor, o kaishakunin dava-lhe o golpe de misericórdia, decepando sua cabeça.

Seria considerada imensa falta de respeito se a cabeça do samurai rolasse diante de seus parentes, que geralmente também assistiam à execução. Por causa disso o kaishakunin devia acertar o pescoço do samurai de modo a deixar a sua cabeça pendendo, para que esta não fosse degolada. Assim, o kaishakunin devia ser um exímio espadachim, pois não poderia falhar em sua atuação. Era uma função considerada honrosa.

Tornou-se costume entre as famílias de samurais ensinar o filho homem, na véspera de ingressar na vida adulta, o modo exato de se praticar o seppuku.

Nem sempre o ritual era seguido à risca com todos os seus detalhes. Em alguns casos extremos como em campos de batalha, onde não havia tempo para tais preparos, o samurai abandonava a vida apenas enfiando a espada em sua barriga.
O primeiro harakiri registrado na história data de 1170, quando Minamoto Tametomo, figura quase lendária do clã Minamoto, suicida-se após perder uma batalha contra o também famoso clã dos Taira.
O suicídio ritual tinha grande significado para o povo japonês. Vencendo o medo da morte, o samurai vencia também esse grande enigma da humanidade e destacava-se então das outras classes existentes na época."

domingo, 7 de outubro de 2007

a lua e nós

somos íntimos de momento
de ver a lua crescer

parece que ela é a culpada
nos instiga a nos querer

depois vai embora afobada
e as nuvens
fiéis criadas
fazem de tudo para que não sobre nada

ocupam o céu.
a luz é apagada.
e nos esquecemos de nos querer

sábado, 6 de outubro de 2007

cruzo tantas esquinas
esquinas tantas com quinas

mas a brisa faz festinha
quanto mais fundo os olhares
maior a noção da vida

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ethos tupinikim ou o próximo samba-enredo do bloco aqui da esquina

o brasil é mãe solteira
filho sem pai
é dor sem ai

sinho dotô
me adianta
que papai se adiantou

a lei é clara
quase transparente
quando os olhos não vêem
o bolso é que sente.

mas há de ter jeito
um dia vai dar jeito
fevereiro vem aí
dias jeitosos virão

Por enquanto deixa a cerveja
amanhã vou querer chandon

tu é meu camarada
um carrasco boa-praça
depois da carteirada
vem jantar lá em casa
vou mandar botar a mesa e fazer sua cama
na parte mais nobre da casa:

a senzala.

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