Tocando meu violão, me lembrei do tempo da escola. No primário, a gente só podia usar lápis. Caneta era privilégio de gente grande.
A imortalidade esferográfica estava reservada a poucos. Com uns nove anos, ganhava-se instantânea e irrevogável permissão para gravar alguma coisa no papel pra sempre. Eu disse pra sempre.
Hoje, percebo o quanto me fez mal abrir mão do lápis em troca da ilusão da permanência. Diante de um samba que tiro de ouvido, “Sem ilusão”, de Elton Medeiros, o lápis e a borracha são companheiros perfeitos rumo ao sucesso: encontrar a sequência de acordes que melhor se encaixa com a letra. Sem espaço para a ilusão, uso lápis.
Escrever com ele é estar aberto ao improviso, é perceber melhor a imperfeição. A impossibilidade de ser eterno. A finitude.
Usar lápis é construir aos pouquinhos em vez de querer fazer tudo de uma vez, é ser humilde perante o papel. Humilde mas nunca omisso. O lápis é ansioso. Não costuma economizar em palavras, isso sem falar em linhas.
Ao contrário da caneta, aflita por ter que acertar de primeira, o lápis tem quantos takes achar necessários.
Como odeia sapatos, prefere caminhar descalço.
Desenhar com lápis é admitir que a vida é um processo contínuo, trabalhoso. Um caminho para algum lugar.
Mas só o lápis não adianta de nada. Feliz de quem guarda uma borracha no estojo.
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