terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Avançam Marés



Avançam marés

(Ricardo Elia/ Pedro Gracindo)

Foi culpa da lua
Não tardou iluminar
Noite fez manhã
No escuro se via
É o dia, é o dia
Num olhar
Avançam marés
O homem e a mulher

Corre,
Não se esqueça,
Não esqueço
Que o medo é o começo
É preciso mais que o medo
É preciso mais
É cedo
Ter coragem
Caminhar


Que ainda é cedo
Ainda é pouco
É tão pouco ou quase nada
Pro luar

Ela que empurra as palavras pra fora
Influi no oceano
Mais branca que o sal
Ela que empurra as palavras pra fora
Influi no oceano
Mais branca que o sal

Ela que invade os meus olhos
Sorrindo no olhar
Ficando mais tempo a mirar,
Aquele tempo
De pensar ainda é tempo

Caminhar

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

gigóia

agudas médias crianças

não tão graves quanto

caminhões.

um céu que não permite lembranças

as mais silenciosas manhãs...


Fios de paz

inundam as folhas;

micos gambás se equilibram

nos muros.


Um pedaço de festa

com água por todos os lados;

ilha

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

hoje o dia

cor da luz

que dá vontade de só ver. Eu vi a luz que dá vontade

de só

ver

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O tempo do livro

Ontem, não sei por que, parei de ler uma crônica da Clarice Lispector para refletir sobre o tamanho da felicidade da pessoa que, pela primeira vez, colocou idéias num papel, uniu em folhas sequenciadas e nomeou a revolucionária invenção:

livro.

Até então, desconfio que as idéias eram escritas em longos pergaminhos. Ou seja, uma folha enorme, escrita de cima para baixo, que ia sendo enrolada, enrolada; quanto mais enrolado fosse o escritor.

Pensando em termos de discurso, acho que o livro tem algumas vantagens (mas não quero aqui defender que voltemos a lavar as roupas no tanque) em relação à verticalidade dos pergaminhos ou sites na internet.

Pula-se de uma página para outra com a felicidade de quem dobra uma curva pedalando e vê uma praia desconhecida despontar. Virar uma folha é como subir um degrau, avançar rumo ao desfecho mortal de um fim.

(Não se pode frear o fim de uma vida como se pode frear o fim de um livro).

Eu gosto do som sutil das páginas viradas - farfalhar das asas em vôo.

Do cheiro das folhas de papel: meu sonho de infância era ser dono de banca de jornal.

Do tato. As páginas precisam de nossas mãos, todos os livros foram escritos pelas mesmas mãos.

O que mais me deslumbra: seu tempo.

Cada livro tem um ritmo, mas não é disso que estou falando. Refiro-me ao tempo do livro. Livros não são escritos para serem lidos de uma vez.

Livros são feitos para serem degustados aos poucos: um pedaço de torta alemã ou uma noite ao lado da pessoa amada.

Um livro inunda uma tarde, uma noite, inunda uma semana. Alguns inundam meses.

Livros molham e secam. Livros gostam de se perder, mas acho que gostam mais de serem encontrados. Livros podem não ter valor algum como podem ter o maior valor do mundo. Livros bons não envelhecem, assim como idéias boas também não.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

zível

palavras;

o visível

música;

o indizível

(o silêncio é invisível

na canção indivisível)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Música

O som que faz o pensamento

Na procura da palavra que

diga.


à procura do som que exprima

Prima por não deixar

Ser vista.


Tocada, ela gosta

(precisa!)

Vir ao mundo pelo

canto.


O som que a cuca precisa

pra cuspir

no mundo

tanto

sentido.


Sentido

da superfície

ao fundo

do umbigo.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Yin Yang

até a razão

tem seus 5 minutos

de romance


com razão


senão viver

seria

um relance quase mudo

razoavelmente

em vão

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

vivo

Do que eu preciso

pra escrever minhas

poesias...


Um pouco

de vida, somente

um pouco

de vida


contrapartida:

dou um pouco

da minha

ralo-tempo

todo dia


é assim

tendo vida em mim

tá feito:

sobra pra poesia

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

de

de terça pra quarta-feira

de apartamento pra casa- festa

de sala pro quarto- farra

de quarto pro banho- suíte

de jardim pra varanda- flor

de manjericão

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Som sonhou que era cor; 

palavra

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Meta de vida

365 amigos amados,

uma festa por dia,

um cavalo em Goiás,

um saveiro na Bahia.

ter a sorte de uma noite;

e sonhar por mais um dia

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

se esqueceu

amor não é como

Dinheiro que você possa cobrar

enriqueceu o cobrador

que não sabia amar

quinta-feira, 30 de junho de 2011

pára-lama

Viver é como andar de bicicleta:

só se consegue o equilíbrio andando pra frente.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

e-mail

pobres dos beijos que não conhecem o contato.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

w homem

w tambor

whisky

o bloco

Pessoas se aproximam

Como hífens de palavras

 

No verso da marchinha eu vi a luz.

 

Nuvens se aproximam

Vão tomando lento a praça

Quinze moças se avizinham

Em barcaças fantasiam

 

Só risos:

 

- O risco é não cantar, o risco é não viver!

domingo, 29 de maio de 2011

Entregador

(Viver é exercício de entrega,

Morrer é exercício de entrega)

 

Entrega é exercício

pelo qual vivo

pelo qual morro

pelo qual corro

quinta-feira, 26 de maio de 2011

teatro feicibuki

Você

até mudou a foto de perfil

Mando meu amor

Pra puta que pariu

Esculachou o meu mural

 

E nem

Aquela foto

Você me marcou

A mensagem

Ce fez que nem viu

Não deu um like

Não me deu moral

domingo, 22 de maio de 2011

Ser poeta tem a ver com ser criança

Brigadeiro puro

Encher a pança

Rir de tudo

Criar palavra

Não ter vergonha

Fazer lambança

Guardar a vida

Criar lembrança

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tento

Que a nossa poesia

Tenha

Alguma existência

 

Que a nossa existência

Tenha

Alguma poesia

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Dois conselhos práticos para se chegar à velhice

1. Nunca economize nas cartas de amor

2. Escute o silêncio com a atenção
de quem ouve palavras de carinho

segunda-feira, 11 de abril de 2011

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Lápis

Tocando meu violão, me lembrei do tempo da escola. No primário, a gente só podia usar lápis. Caneta era privilégio de gente grande.

A imortalidade esferográfica estava reservada a poucos. Com uns nove anos, ganhava-se instantânea e irrevogável permissão para gravar alguma coisa no papel pra sempre. Eu disse pra sempre.

Hoje, percebo o quanto me fez mal abrir mão do lápis em troca da ilusão da permanência. Diante de um samba que tiro de ouvido, “Sem ilusão”, de Elton Medeiros, o lápis e a borracha são companheiros perfeitos rumo ao sucesso: encontrar a sequência de acordes que melhor se encaixa com a letra. Sem espaço para a ilusão, uso lápis.

Escrever com ele é estar aberto ao improviso, é perceber melhor a imperfeição. A impossibilidade de ser eterno. A finitude.

Usar lápis é construir aos pouquinhos em vez de querer fazer tudo de uma vez, é ser humilde perante o papel. Humilde mas nunca omisso. O lápis é ansioso. Não costuma economizar em palavras, isso sem falar em linhas.

Ao contrário da caneta, aflita por ter que acertar de primeira, o lápis tem quantos takes achar necessários.

Como odeia sapatos, prefere caminhar descalço.

Desenhar com lápis é admitir que a vida é um processo contínuo, trabalhoso. Um caminho para algum lugar.

Mas só o lápis não adianta de nada. Feliz de quem guarda uma borracha no estojo.

 

terça-feira, 29 de março de 2011

ou

um livro parado na estante

ou

um livro que pare o instante?

segunda-feira, 14 de março de 2011

O sofá

Carnaval invadiu o meu ano

Carnaval alagou minha ala

Carnaval foi dormir lá na sala

 

Fantasia nua

Acordou um farrapo de rua


Esse trapo de pano

trapo de ano

esse trapo de nó

trapo de nós

esse trapo

é ú ó

quarta-feira, 2 de março de 2011

Blocos

são girinos

de folguedos

meninos e meninas

O brinquedo

segredo de não ter segredo

feliz carnaval

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

paciente

escrevo:

doer é sintoma

da melhora

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

tempo


fica pequeno

o porto

que a proa afasta do barco

 

fica pequeno o barco que a popa afasta do porto

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Sem conclusão, dedicatória ou páginas numeradas (para nossa sorte e para não faltar suspense);

vida

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