farofa
arroz com feijão e banana
farofa
arroz com feijão e banana e quiabo e abóbora
farofa
farofa
imagens visuais
- Digo,
viagens usuais.
mais sonho.
e filme.
algo que distraia
que seja comum
(é daí que as palavras nascem)
(vôo)
brincar de brincar de tempo e espaço
compasso de nada obrigado por baixo
encaixo um abraço
nautmosfera que vem
tanto encanto
que canto na proa
(canção)
invólucro-reciclável-de-memória-sensação
envolvo minha carne crua
nesse sopro
envolvo minha carne assada
nesse som
na sala do meu sonho
cada som era um carinho
de olho atento na parede
ouvido atento de menino
bate e volta na parede
a ida e volta é um caminho
pensa sente e ouve e ri
sonho bom é esse aqui
cria massa efeito som
na parede é que é bom
é por isso que eu falo e canto
por isso que me acalanto
Credito no poder do som
Poderdacústica
Damúsica
Donome
Dapausa
Silêncio que entende
a hora
de ouvir e ver
ver e não escutar
escutar e não ver;
saber
A universidade
Do futuro
será(já é)
a rua
Encontro de quem não se conhece
Dois dias já é da família
Aulas com o tempo de um dia
filosofia
pra esperar o sinal abrir
A universidade da rua já é (será)
pra lá do universo
encontro do inverso com verso
que versa
sobre a hora
do sinal
abrir
.
..
...
E se não abrir?
A
que nunca que se dá
que nunca se dá
que nunca se dá;
dê
a que nunca se dá
que nunca se dá
que nunca
cidade
detalhe
manifestação óbvia das coisas, o todo na parte
detalhe
aquilo que é óbvio
detalhe
quando o todo se manifesta na parte
detalhe
a ironia do óbvio
detalhe
é a obviedade fazendo ironia
detalhe: quando
detalhe:
é o óbvio
fazendo charminho
seus olhos tão cheios de som
barulho de gente na sala
falei sem palavra
nem tom
a luz que reflete entre
nós
também fala
é barulho de cabeça
ou cabaça
sinapse em carrinho
bate-bate
som que faz a cuca
no esforço
de lembrar
Tinha um ano
quando
começou
a usar;
palavra
não lembra se aos 6 ou 7;
escrita
tem esperança
que até os 70
aprenda a usar o silêncio
momentos sublimes
no forró
o calor me esquenta o
outro da alma
o que se diz em um beijo
é maior que palavras
o que se diz no segredo
guardado de um beijo
não se diz em palavras
a palavra está
a partir da segunda
camada de pele
palavra se acha
mais dentro que fora
no depois
e não no agora
no complexo e não no nexo
no reflexo e não no flexo
Que a fende se estende pra sempre
pros lados
pra dentro
pra fora
é o outro
essência
num dado momento
banal
aquele pouco
que se sabe do final
parte que aperta;
é a pinta
é a ponta
é a puta
ponto de interrogação
solto
?
(não precisa de frase,
não precisa estar no final)
Retalha o que
(h)ouve na malha
- tropicália -
preencha essa manta
(ou toalha,
casaco de som
sombra de sonho trançado
em ponto cruz)
Marola
é língua de gato
Que lambe o mindinho
Molhando o pé
Maré
vem chegando no encalço
Avança pra linha
Dos prédios até
Inunda
afunda ligeiro
Pra não sobrar cheiro
Dos homens de cá
uma alga na areia
Que a terra semeia
O que vem do mar
Começou no polegar, ensinou ao mindinho. Espalhou pelos cinco
as mãos ensinaram às pernas, passaram pros pés, calejados de chão
os olhos ensinaram à boca. O nariz ensinou à barriga.
Ouvidos ensinaram à espinha.
Ouça (eu ovo) a galinha:
escrever ensinou a pensar
Ou foi pensar
que ensinou a escrever?
escrita
estrutura
pensamento
armadura
vai no tempo
partitura
Ritornelo
Que não dura
silêncio depois da música
água depois da sede
beijo depois do silêncio
música depois do beijo
certa, a fila dos menos
de 30
foi olhar
me encantei na hora
conversa de fila
de vacina
o corredor chegando
as curvas se abrindo
o tempo é infinito
um bom infinito de fila
largou algumas sobre si
tentei completar por aqui
pegar bolinhas
de sabão no ar
sem destruir
(seu nome ainda não tinha)
verdadeiro encontro dispensa o nome
tomada a vacina
saímos juntos
papeando copacabana
atravessou
Nossa conversa sem
fazer barulho
comissária de bordo
uma vida
viajando
lado a lado
na nossa
senhora
só não contava com aquela curva
que curvou sem muito pestanejar
- Eu moro aqui, vou dobrar
-Prazer
-Prazer
E foi
e
tudo que passa na mente
de um sonhador consciente
Não há como explicar
lidar com aquilo que antes de ser
já era, não foi, já foi
sei lá
só escrevendo algumas linhas
pra
dar razão de vida
àquilo que jamais
será
?
Parágrafo. Um ponto, só uma virgula. O ritmo na escrita é feito de tinta e espaço, barulho e silêncio, luz e escuridão; ponto e vírgula. Dois pontos: você que escolhe o compasso, se lê bem rápido ou se vai de mansinho. Três pontos...
O verso
Sugere um caminho
O ponto e o verso sugerem um caminho
O ponto é a pausa dramática
O verso
Vírgula do espaço
Escrita, palavra
mais enigmática
preenche o encalço
calça o som
nomeia emoção
cresce o refrão
no espaço
há tempo pra mais espaço
união
não ouço uma forma concreta
de se de separar
os irmãos
o louco que
finge ser normal
aquele pouco
que sabe do final
(é a parte
que aperta
a ponta;
é a pinta
é a puta)
fazer poesia é defesa
que tenho
no peito, guardada
tão só
Toda prosa
que
parece até
Que vive
fora
a mais interativa
a que deixa à
deriva
do sonho
sentimento
sensação
Abram as portas
da vida
garganta
O sopro que a luz
Instiga
melodia vivida;
canção
livro bom
arrepia a espinha
faz da voz dele a minha
entristece
não pelo final trágico
mas pela tragédia de ter um fim
é que aparece no horizonte
mas veja bem
foi a parte escondida que mereceu tal nome
(a ponta sozinha é gelinho num copo de whisky)
A música faz lembrar o sentimento que
foi sentido no exato momento
em que foi feita.
Pra congelar arrepio
É mais eficaz que nitrogênio líquido
E cada vez que se ouve
se soma um sentido
lembrado na próxima vez em que a musica é ouvida
e tome mistura de vento,
infinita e disforme, numa soma de vida
vá lá, desisto de explicar com a última:
música é forma de se misturar arrepio
no cheiro do
pescoço da menina depois do amor
eu sinto a morte
vivendo a vida
um pouco dela, essa
menina
amor é arte
eu sou você
não é ciência
fazem cinema
minhas mãos
nas costas dela
o melhor poema:
dedos descem pela costela
eu-lírico nos seus ouvidos
verbos de vento
sem tempo
sem som
O fim da festa me deixou órfão da rua. Mas não de qualquer rua. Sou um órfão da rua do carnaval.
Aquela rua que se fantasia com a sua essência mais pura só para nos lembrar a razão da sua existência.
“Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.
(…)
A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo. Há suor humano na argamassa do seu calçamento. Cada casa que se ergue é feita do esforço exaustivo de muitos seres, e haveis de ter visto pedreiros e canteiros, ao erguer as pedras para as frontarias, cantarem, cobertos de suor, uma melopéia tão triste que pelo ar parece um arquejante soluço. A rua sente nos nervos essa miséria da criação, e por isso é a mais igualitária, a mais socialista, a mais niveladora das obras humanas. A rua criou todas as blagues todos os lugares-comuns.
(…)
Para compreender a psicologia da rua não basta gozar-lhe as delícias como se goza o calor do sol e o lirismo do luar. É preciso ter espírito vagabundo, cheio de curiosidades malsãs e os nervos com um perpétuo desejo incompreensível, é preciso ser aquele que chamamos flâneur e praticar o mais interessante dos esportes – a arte de flanar. É fatigante o exercício?
Que significa flanar? Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem.
(…)
É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico.
(…)
O flâneur é ingênuo quase sempre.
(…)
O balão que sobe ao meio-dia no Castelo, sobe para seu prazer; as bandas de música tocam nas praças para alegrá-lo; se num beco perdido há uma serenata com violões chorosos, a serenata e os violões estão ali para diverti-lo. E de tanto ver que os outros quase não podem entrever, o flâneur reflete. As observações foram guardadas na placa sensível do cérebro; as frases, os ditos, as cenas vibram-lhe no cortical. Quando o flâneur deduz, ei-lo a concluir uma lei magnífica por ser para seu uso exclusivo, ei-lo a psicologar, ei-lo a pintar os pensamentos, a fisionomia, a alma das ruas. E é então que haveis de pasmar da futilidade do mundo e da inconcebível futilidade dos pedestres da poesia de observação...
Eu fui um pouco esse tipo complexo, e, talvez por isso, cada rua é para mim um ser vivo e imóvel.
(…)
Qual de vós já passou a noite em claro ouvindo o segredo de cada rua? Qual de vós já sentiu o mistério, o sono, o vício, as idéias de cada bairro?
(…)
A alma da rua só é inteiramente sensível a horas tardias.
(…)
Talvez que extinto o mundo, apagados todos os astros, feito o universo treva, talvez ela ainda exista, e os seus soluços sinistramente ecoem na total ruína, rua das lágrimas, rua do desespero – interminável rua da Amargura.”
João do Rio em “A alma encantadora das ruas”, 1908.
Texto completo em:
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000039.pdf
peguei
o bonde do destino
pulei
de vagão em vagão
fiz da euforia
um hino
conheci
uma princesa de rosa
de tanto cantar fiquei rouco
meu suor fez
salgado o
chão
a noite a se fantasiar
de dia
tristeza com chapéu de alegria
a alegria por si só
fantasia
captei o princípio
da rua
andei do início ao fim
eu passei pelo bloco
ou foi o bloco que passou por mim
Um pouco de você
pros outros
já e muito de você
(entenda que neste bloco já não há espaço para a desilusão)
10 minutos de alguém
é um universo
acredite
(e tudo o que é desconhecido pode ser guardado no bolso)
não tire retratos
vista seus olhos;
é impossível fotografar a neblina da festa
É que eu vi um carnaval de caixa e zabumba. O coro eufórico das pastoras, já pensa na próxima, emenda naquela, fechando os olhos pra escutar melhor. E é bloco porque é bloco de ato, espaço fica pequeno pra tanto corpo descalço. Quem combinou foi o acaso, sem pensar no fato, pelo simples instinto de combinar os lados. Se fantasiou de rei e resolveu brincar. Fez juntar a caixa com zabumba, as pastoras com as ovelhas, novas e velhas, ovelhas brancas e cinzas e negras. Quem chega pára pra ver aquela união estável. Um rio fluindo numa poça, esse bloco que desfila e canta
parado:
“sintonia do amor
sintonize agora por favor”
pela madrugada
chutar uma amêndoa como se fosse uma bola
pra testar quanto tempo
se leva a mesma amêndoa
com os pés pela estrada
se prende a um ponto amarelo
mais cedo ou mais ou mais tarde
se descasca e rosa
te leva
essa amêndoa sem rumo
pensa agora só no
caminho
(a
cabeça baixa
mirando
o vazio
atenção difusa na
estrada parada
e só
o que gira
é amêndoa)